Dou por mim sentado no silêncio da noite, à espera.
A meu lado, arde uma vela. As chamas sibilam por dentro do negro mais negro enquanto me rendo à certeza de que não vens. Nem hoje, nem ontem, nem amanhã. Nenhuma outra noite te trará de volta aqui.
Os instantes levaram-te, como os ventos do norte, para o lado mais oposto do lugar onde eu tacteei para poder parar.
Talvez sejamos, no limite, duas linhas paralelas que não se encontram nunca. Talvez a linha que me desenha seja feita de lascívia e a tua te desenhe com linhas divinas.
Ainda assim, dou por mim parado no escuro, à espera de ti. A dançar, como se meu corpo estivesse ébrio, quase como se minha consciência estivesse distante, quase como se nada disto fosse real.
Sento-me no lugar de mim, onde me sei e reoriento. Talvez não venha a haver nenhum outro lugar para eu ficar.
Dispo-me no instante mais negro do silêncio e entrego-me na humilhante dança do meu próprio corpo. Como se tivesses vindo. Como se estivesses aqui. Na esperança de que a noite possa trazer o lado inverso desta vigília que me afasta do meu norte.
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