02/04/2019

susPenso

Estou suspenso num pilar de ferro. Mãos a segurarem os cabos de aço que unem este ponto, que nos separam da queda.
Pés descalços a calcar o ar que ciranda por entre o frio do fim do inverno.
Estou suspenso em finos fios de aço que me atravessam por dentro e me seguram ao começo de mim. 
Ar e água. Por debaixo da minha nudez, só ar e água no vento frio do princípio da noite.
Seguram-me nas palavras que ouvi antes de chegar até este lugar, até este tempo que se encerrou por dentro do meu corpo. Como se estivesse parado. Como se a ambiguidade me tivesse rasgado a pele em duas partes. Uma mão a segurar no aço. Outra mão suspensa no vazio.
Que lado se escolhe?

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