Começo a caminhar sem ter nenhuma intenção de parar. A pele de meus pés geme sobre o asfalto enquanto o verão devora a estrada. Finjo não ouvir. Escolho não sentir.
Começo a correr a tentar desafiar o vento. Falho. Necessariamente que fracasso. Reduzo o passo. Retomo o caminho na lentidão da dor que ignoro. Carrego no peito a certeza de que não chegarei a lugar algum. Carrego-me na certeza irredutível que não tenho mais lugar aqui. Consola-me saber que posso não chegar. Que me permito não chegar. Que escolho continuar a andar sem ter onde chegar.
Espero que as chagas me ocupem o corpo inteiro. Que o sangue jorre até findar. Que minha pele se desfaça na estrada, até não sobrar nada de mim.
Continuo a caminhar até que a estrada tenha, sem si mesma, um fim.
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