12/01/2011

Tens os lábios suspensos na marca de água onde caíram as palavras antigas. Nos pés não há soalho que não esteja apodrecido pelo tempo passado sem piedade sobre os rasgos da humidade que te cobre os cabelos. Ouço-te rezar quando fecho as janelas e impeço o resto do mundo de devastar o que resta da tua solidão. Aqui dentro não há perigo. Sabes bem que aqui dentro não há perigo.
Olho-te por detrás dos vidros e percebo que nunca compreendi – verdadeiramente  -rigorosamente nada do que te fazia mover. Sempre soube a selvajaria que acontecia dentro do teu pensar mas nunca pude saber a verdadeira dimensão das coisas que te consumiam.
Suspendi-me nas palavras que tinha para te dizer e remeti tudo ao silêncio que só as almas velhas sabem manter. As palavras, tuas, caídas longe das minhas, mais não poderiam ser do que o reflexo da nossa eterna incapacidade de ser o que restava de nós.

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