02/12/2009

velho

Sinto-me velho.
O meu corpo não se sustém.
A minha pele é areia e rasgos.
A minha imagem não me reconhece no espelho.
Sou eu e sou outro qualquer deixado por mim numa qualquer curva do tempo. Isto que fui e isto que sou não parecem pertencer ao mesmo lugar.
Ainda que me procure nos restos das cartas, no pó dos livros, nas folhas esquecidas e nas palavras desenhadas a tinta preta, não encontro muita coisa. Não encontro quase nada.
Sinto-me velho.
Sou o que resta do que fui. Um dia. Um dia grande em que a noite parecia que não tinha fim. Em que o dia não terminava nunca. Em que as coisas eram simples e inteiras.
Hoje, hoje não me reconheço na sombra. Não me sustenho de pé. Não tenho vontade.
Hoje queria derramar-me na tinta e escrever-me inteiro sem sentido. E nem isso consigo.
Evito caminhar com receio da queda.
Evito escrever no temor do erro.
Evito sentir pela agonia do vazio.
Evito olhar-me pela subtileza da dor.
Evito ser como se existir pudesse ser contornável.
O certo é que hoje, neste preciso momento em que o frio me entra pelas janelas abertas por toda a casa, sinto-me assim. Envelhecido. Sem rosto. Sem sombra. E vazio.
Resta-me a esperança cega de que amanhã, quando esta noite terminar, seja menos difícil respirar.

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