14/04/2024

Tenho o respirar quase a cessar. Está sob uma mão firme, pesada, persistente, esmagadora. Desde quando, não sei bem mas agora parece estar a terminar o tempo.

Tento virar-me. Para um lado. Para outro. Fugir. Por um lado. Ou por outro. E ela sustem-me contra a parede. Determinada. Quente. Imperativa. Subjuga-me.

Mantenho os olhos fechados. Talvez não a queira ver de frente. Temo descobrir se me confronto ou se me conforto. Comigo. Com ela. 

Aos poucos, com uma suavidade triste, o corpo vai perdendo a força.  Esquecendo a vontade de lutar. Incapaz de dignificar qualquer gesto. Fica fria, a pele. Fica escuro, o sangue. Fico perdida, eu. 

Decido que tento tocar a mão que me asfixia. Queria dizer-lhe, baixinho, como se fosse o maior segredo dos mundos, que não estou preparada. Na verdade, que ainda não quero. Que me pode violentar, me deve castigar, me pode desfazer, quebrada em pequenos seixos, mas que me deixe continuar a respirar.

Desafio todas as probabilidades. Escolho a audácia para o gesto final. Não é coragem, nem determinação e talvez nem seja sequer vontade. Audácia. Levanto a minha mão direita, já lívida e profundamente cansada, e deixo-a cair sobre o meu cárcere.  Espero, breves segundos...espero...Abro os olhos. 

Cessa. 

Assim. 

De repente. 

O mundo todo. 

O respirar.

Eu. 

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