31/07/2023

O único cenário que me permito vislumbrar na partida, é o manto de luzes que alumiam as encostas da Ilha e que revelam os caminhos de regresso a casa.

Talvez seja no lugar mais escuro da noite, este em que agora me encontro, que procure encontrar o que te ilumina dentro do olhar que é o meu. 

Escavo fundo o abismo que minhas mãos temem ter em ti e recuo, vagarosamente, quando entendo que não poderei encontrar lugares além destas areias que se movem incessantes. 

Pensei que iria haver chamas, labaredas, velas, candeias, lume, mas há apenas os ventos áridos devastados pelos segredos inventados das planicies ocres do deserto das mãos que são as tuas. 

Tanta água e tanta areia no mesmo lugar... Tanta luz e tanto breu...Tanto de divino como de luciferano, mesmo sendo lucifer o anjo que perdeu a luz e as asas, tu és o lugar devastado da devassa ausência de esperança. 

Perdes, a cada momento, a vontade, a tolerância, a sabedoria da espera e a vertigem da demanda. 

Corres sempre, somente, no sentido de enganar o temor de parar. 

Perdeste já o sentido das minhas mãos. Já te não fazem falta.

Eu creio ter perdido o sentido da tua alma,  as linhas da tua pele, o sabor das tuas palavras, o sentido do teu sentido.

Encontramo-nos cada vez mais longe. Tu a correr o deserto coberto de mar. Eu a escavar a luz que mergulha no âmago da noite.

Já não vamos saber encontrar o caminho de volta.

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