05/10/2020

Em breves momentos, a praia fica deserta. De tempo. De pessoas. De restos. 

Permanecem, aqui e ali, apenas os poucos corpos que resistem ao ar que arrefece a pele. Rapidamente se transformam em vultos que se deslocam no aro dourado que acaricia a areia enquanto o sol, lento e lascivo, se recolhe por entre a rocha negra. 

No mar, afogam-se orações e memórias.

Deixas que tuas mãos mergulhem no toque salgado das palavras de abandono entoadas no segredo do silêncio do crepúsculo. 

Gaivotas chegam em voo raso, lento, sereno, para descansar do calor tórrido que fervilha nos horrores que residem nas entranhas da cidade. Deitam-se sobre o lugar em que o calor se demora a abandonar a areia fina, mesmo junto ao silêncio que preenche o vazio que salga o interior de tuas mãos. 

Não há medo nem temor aqui. 

O deserto que cabe dentro de ti, é tão fundo quanto o mar. Tão lento quanto o bailado do sol na areia.Tão serenamente dilacerante quanto o voo triste das gaivotas cansadas. 

Em breves momentos, a praia fica deserta. Já não há medo aqui.

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