01/04/2014


Cheira a cinzas e a vazio.
Faz frio aqui.
As vozes, roucas, entoam melodias há muito esquecidas.
Nesta casa não existe amanhã. Existe apenas o que sobra da noite quando o dia decide partir. Sobra apenas a madeira antiga a rasgar a pele dos pés despidos.
Se ouvires com atenção, reconheces que o silêncio já não está aqui. Que há um ruído interminável a sobrevoar toda a capacidade de respirar e deixas de querer respirar. Às vezes deixas de querer respirar e passas a querer ser a chuva que corre do lado de fora dos vidros, das paredes, da madeira, e transforma a terra no lodo onde te podias deixar tombar.
Se escutares com atenção o que o vento dentro da tua memória dita, verás que as coisas que não podem ser alteradas, são como esculturas esculpidas no gelo que existe dentro de cada um de nós. Gelo que nenhum sol pode derreter.

Por isso faz tanto frio aqui. Por isso não podes, nunca, chegar a ser chuva.

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