Tenho a tristeza presa nos cabelos molhados. Levo as pontas ao sabor da boca e não é mar nem sol nem liberdade nem certeza o sabor em que a tristeza arde.
Afogo a voz dentro das palavas dentro da tinta dentro das páginas dentro da gaveta. O silêncio segura as pontas das correntes e dos grilhões e as palavras passam a saber a ferrugem e a cinzas dentro da pele.
Cerro os punhos encarcero os dedos dentro das mãos coloco as mãos dentro do vazio dos bolsos.
Revisito a localização dos objectos das memória dos desejos da vontades dos por vir. Reavalio os pontos de fuga abro janelas fecho portas abro portas fecho janelas cavo buracos coloco arame farpado abro as cancelas encerro os fossos cubro as arestas estilhaço os vidros e descalço a pele.
Afino a estratégia. Abro as portas e as janelas ao vento e deixo que o ar reclame o lugar de tudo o que não possa levar. Abandono o que resta no calor devastador da promessa e escolho a banalidade do mal que reside nos meus cabelos.
Viro-me para trás encerro tudo fico apenas eu dentro do lugar de dentro e peço que finalmente o resto me abandone enquanto peço que se ardam os cabelos no segredo violento que guarda o calor desta noite.
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