Não questiono nada. Coloco em minhas mãos, o lugar vazio das tuas.
Reconheço que são
tua voz e tua pele
o princípio e o fim de todas as coisas.
Minha língua entoa uma oração incompreensível que apenas eu conheço. Que não revelo a ninguém. Como se fosses o silêncio mais bem guardado de todos os segredos.
Respiro fundo o ar que te sustenta e reencontro-me num lugar reservado à vida. Reservado ao tempo reservado à possibilidade da vontade de ser tempo reservado para ser tempo. Um lugar de vida viva por ser um tempo breve do qual desejo que voltes sempre a partir.
Fecho os olhos para te ver inteiro enquanto te sustenho na ponta dos dedos, enquanto me revisto do aroma da tua pele, enquanto completo a areia nos lugares esvaziados da travessia.
Rezo. Ao teu D. Sem que lhe peça nada. Rezo apenas como quem canta o silêncio, como a brisa quente de Outubro que lambe as folhas do chão e as leva a dançar, serenamente, por entre as árvores que quedam dentro de nós.
Escuto, por entre preces, a areia, a pele e o vento, todas as coisas que me não podes dizer.
Guardo todas as sílabas, todas as palavras, e deixo que repousem sobre a pele da língua, sobre a saliva dos dedos, sobre a certeza da incerteza, para poder saber tudo o que me disseste.
Escuto.
E
em breve
deixo tudo partir.
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