19/12/2018

pRaça

Respiro a humidade que abraça a noite. Penso em ti. Em mim. No que ficou por saber.
O tempo foi a lâmina que se atravessou no caminho que nos uniu. Que nos despedaçou. Que nos cravou na pele o nome de cada uma das angústias que nos definiu. 
Sinto como o frio te atravessa a pele. Sentado no jardim. A escutar o silêncio que chega quando a noite cede ao peso do mundo. Tu e eu sentados de costas, com o jardim a desvanecer na memória que nos veio a atraiçoar.
Somos lágrimas feitas da mesma areia. Areia caída do mesmo deserto. Deserto sabido em cada alma. 
Somos o mesmo lugar sem lugar. O mesmo tempo sempre sem tempo. O mesmo espaço por completar.
Tu e a sombra de mim defronte das árvores cansadas do inverno. À espera de um milagre. À espera de uma nova noite.
Eu, de frente para ti, sem que me vejas. Sem que me oiças. Sem que te apercebas que, na verdade, nunca saí do mesmo lugar. 

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