04/09/2024

Lambi a ferrugem dos grilhões que arrastas dentro da noite segregada a ouvidos adivinhadores

tenho a boca a saber ao ferro

a alma a saber a miséria 

sinto-te na falta

tenho-te em falta mas não tenho falta de nada de ti

tenho os dedos a saber a tempo e a desventurança

o sexo a gritar saudade e a  secar por dentro da desesperança 

a pele a queimar inteira a poesia da incerteza e a cobrir o vazio do vento frio da serra triste. 

tenho galhos secos em lugar das mãos

ferrugem no lugar do sangue

amarras no lugar das lágrimas 

pudor ao invés de amor.


Lambi a ferrugem do tempo e fiquei parada. 

procuro formas de regressar às formas e parece que tudo foge dos dedos, dos galhos, do sangue enferrujado, do silêncio dos gritos contidos, das desventuranças da incerteza de saber sentir do lado certo da alma. 

Talvez encontre o caminho de volta ao vento que sopra de feição às ondas e às folhas. ou talvez permaneça somente assim, a arrastar-me quieta no interior da noite.

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