Considerei a possibilidade de permanecer imóvel. Fingir que já não respirava. Ficar completamente parado.
Por vezes deixamos de respirar. São breves segundos mas deixamos de respirar. Talvez esses segundos sejam suficientes para que me deixes partir em paz. Para que não me vejas vivo e te esqueças de mim. Que olhes meu corpo lívido e me abandones na terra. Que retires essa sombra sempre tão escura de cima de minhas mãos e me deixes terminar, à minha maneira.
Será que permanecendo assim, cingido à ilusão da mortalidade, te poderei iludir? Será possível moldar a tua visão da realidade à minha pura intenção de me libertar? Será quebrar algum laço de fidelidade jurada em silêncio sofrido se te trair e insistir para que me deixes?
Penso que já não me importa o que sentes, o que pensas, o que precisas. Sempre foste água que precisava de terra para conseguir parar de correr numa tempestade frenética. Eu fui sempre terra que precisou de água para respirar. Até este momento. Agora andamos no reverso da nossa inteireza. Quebrámos partes. Fizemos um lugar de barro.
Por isso permaneço imóvel. Deixamos, por momentos, de respirar.
Deixo-te passar em torrentes incessantes de mar salgado numa beleza imperturbável.
Deixo-te ir.
Deixo-me ir.
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