I
Entrou na sala como se nada o esperasse.
Virou o casaco do avesso enquanto o despia. Sempre a olhar para os pés. Para o chão.
Meia-luz. Velas espalhadas faziam o espaço parecer mais pequeno enquanto iludia no tamanho. Era pequeno demais.
Não se recorda se havia música. Talvez. Mas não ouviu. Pelo menos não no início. Pelo menos não até ela entrar ali.
Pediu qualquer coisa que o fizesse esquecer que lá fora não estava mais do que o mesmo frio que sempre o tinha perseguido desde que aqui chegou. Ali chegou. Não. Desde que aqui chegou. A esta cidade. De noite. Sim, porque chegamos sempre com a noite e partimos sempre no dia.
Nada o esperava, na verdade. Ninguém se virou para o olhar quando as mãos troçavam dos gestos que o casaco não podia fazer sozinho, quando os dedos não conseguiam segurar o copo, quando as luzes já não viam o resto dos olhos.
Nada o esperava nem ali nem em nenhuma outra parte. Pelo menos não nesta noite. Ou nas noites anteriores, a bem dizer. Há muito tempo que se encontrava só mas toda a sua necessidade de fuga o iludia num tom onírico fazendo-o crer que não era real. Que não estava verdadeiramente só senão nos momentos em que se sentia irremediavelmente só.
Não se recorda de nada até ao momento em que ela entrou na sala. Não se recorda de nada que tenha sucedido nos minutos seguintes em que o corpo que parecia pertencer à sombra que as luzes obrigavam a aparecer se aproximou, numa lentidão devassa e a cheirar a desistida, e colocou as mãos e a solidão por cima do balcão sujo.
Virou o casaco do avesso enquanto o despia. Sempre a olhar para os pés. Para o chão.
Meia-luz. Velas espalhadas faziam o espaço parecer mais pequeno enquanto iludia no tamanho. Era pequeno demais.
Não se recorda se havia música. Talvez. Mas não ouviu. Pelo menos não no início. Pelo menos não até ela entrar ali.
Pediu qualquer coisa que o fizesse esquecer que lá fora não estava mais do que o mesmo frio que sempre o tinha perseguido desde que aqui chegou. Ali chegou. Não. Desde que aqui chegou. A esta cidade. De noite. Sim, porque chegamos sempre com a noite e partimos sempre no dia.
Nada o esperava, na verdade. Ninguém se virou para o olhar quando as mãos troçavam dos gestos que o casaco não podia fazer sozinho, quando os dedos não conseguiam segurar o copo, quando as luzes já não viam o resto dos olhos.
Nada o esperava nem ali nem em nenhuma outra parte. Pelo menos não nesta noite. Ou nas noites anteriores, a bem dizer. Há muito tempo que se encontrava só mas toda a sua necessidade de fuga o iludia num tom onírico fazendo-o crer que não era real. Que não estava verdadeiramente só senão nos momentos em que se sentia irremediavelmente só.
Não se recorda de nada até ao momento em que ela entrou na sala. Não se recorda de nada que tenha sucedido nos minutos seguintes em que o corpo que parecia pertencer à sombra que as luzes obrigavam a aparecer se aproximou, numa lentidão devassa e a cheirar a desistida, e colocou as mãos e a solidão por cima do balcão sujo.
a continuar se a imaginação assim o permitir...
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