Pego no vidro com as duas mãos.
Parto-o em duas partes desiguais.
Com a mão direita, seguro a parte mais larga do vidro e rasgo a mão esquerda. Até chegar aos ossos.
Com a mão rasgada, seguro o lado mais estreito da segunda parte do vidro e enterro-o na minha mão direita.
Carrego os vidros nas mãos desfeitas e caminho até à entrada do rio. Sujo a ferrugem ocre do lugar de embarque e acinzento o olhar do rio sobre meu sangue escuro.
Entro no navio que navegará a imensa vastidão do oceano durante a noite velejada ao sabor do outono triste.
O mar entoa uma melodia azul. Uma melancolia inevitável.
Fecho os olhos para escutar as ondas e o escorrer de mim.
Quando chegar a meio do oceano, estarei exangue.
Quando atracar, o vidro estará inteiro.
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