11/02/2010

vidro

Olhei através do vidro e não pude ver nada. O vidro não estava lá. No lugar apenas fragmentos. Apenas partes de um todo desfeito no ar.
Quando olhei para a imagem que não via compreendi tudo.
Não estava nada ali.
Não estava ninguém mais ali. E por isso não podia ver.

Foi quando olhei para trás que senti a chuva cair. Apenas nesse momento percebi que chovia desde ontem, incessantemente. Só aí. Quando mais nada restava.
Verifiquei a pele das mãos. O lugar da boca. Os fios do cabelo. Fechei os olhos. Vezes sem conta fechei os olhos de olhos fechados e desequilibrei-me. Passo após passo e eu a perder o equilíbrio. Como se não houvesse chão ou como se ele fosse de lama de pedras de socalcos de montanhas.

Não ficou nada para me lembrar do caminho.
Meu campo de visão absolutamente vazio e isso teria de ser o suficiente para saber voltar.
E foi na insegurança do desequilíbrio que retomei a marcha. Pelos fios de cabelo. Pela pele da pele. De olhos fechados sobre os olhos fechados.
A saber que não estava mais ninguém ali e que eu já não podia, nunca mais, regressar.

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